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Posso dizer que neste momento vivo muito bem comigo mesmo e que o pior já passou. Ainda penso no meu casamento, naquela que foi minha mulher e ainda sinto raiva e muita dor devido ao seu comportamento assim como da maior parte da sua fam­lia, no entanto, aprendi a preservar-me e a saber viver as dificuldades da vida sem consumir drogas e sem ter comportamentos auto-destrutivos. É óbvio que não aprendi tudo isso de um dia para o outro, tive e tenho o meu processo de conhecimento e crescimento pessoal para o qual muito contribuí­ram os N.A., (Narcóticos Anónimos), e a psicoterapia, que muito me ajudaram nesse processo assim como na minha recuperação.
Foi minha intenção ao escrever este testemunho transmitir uma mensagem de esperança, no sentido de que e possível a um toxicodependente viver sem drogas. Não quero de forma alguma dizer que eu estou curado, longe disso. Até ao fim da minha vida estarei em recuperação, podendo contudo recair a qualquer momento e assim voltar tudo à  estaca zero. Neste momento apenas posso dizer que não quero voltar a consumir drogas. Para isso devo manter-me atento aos sinais de recaí­da e manter-me fiel ao que eu estabeleci como percurso na minha recuperação. E a melhor forma para eu poder continuar em recuperação e continuar a Sentir e saber lidar com os sentimentos, e conseguir transmitir aos outros esses sentimentos, o que não fiz durante os 18 anos em que me droguei. Neste momento considero-me uma pessoa feliz, e preparada para continuar a lutar pelo meu sonho, que é ter um filho, e penso que isso é o que mais me ajuda a continuar em recuperação, o ter Esperança, Confiança e Coragem para continuar a lutar, sendo assim é óbvio que a minha Auto - Estima está no auge. Não querendo usar  frases feitas sobre a droga, quero, no entanto, transmitir uma experiência que espero possa ajudar algumas pessoas a não procurar as drogas para obter algumas sensações. Poderei dizer que todas as sensações que encontrei no consumo de drogas também as sinto no dia a dia sem drogas e para isso basta estarmos de mente aberta e viver as situações com naturalidade, aprender a sentir o amor de quem nos ama, a apreciar um bom amigo, um bom momento, a valorizar as nossas conquistas pessoais e com certeza que sendo assim sentiremos todas as sensações que nos levavam a consumir drogas. Resumindo: lutem, amem, sofram, odeiem, sejam felizes mas....   VIVAM A VOSSA VIDA SEM DROGAS

 

 

Penso que se terão passado cerca de 8 anos, desde a última vez que aqui escrevi algo, também é verdade que só ontem resolvi fazer este site. Para que percebam, antes deste site tive um outro, que era pago, e quando fiquei desempregado achei por bem eliminar esse site e assim deixar de ter essa despesa. Portanto, tudo o que está neste site, foi transcrito do antigo site, por exemplo o Livro de Visitas, são comentários deixados durante o tempo em que o outro site esteve online, daí muitos comentários terem a mesma data (05-06-2014).

 

Sendo este espaço um testemunho de vida, é essencial que actualize os factos até ao dia de hoje, reconhecendo que foi um período demasiado grande sem dar notícias minhas.

 

Depois de me separar, e ir viver para o meu apartamento, continuei a trabalhar com o meu pai, e em 2004 comecei a colaborar com um site de relacionamentos, onde entretanto me tinha inscrito. Paralelamente ia participando em diversas actividades devido à Associação Canguru. Entretanto, recebi uma proposta da administração do site, para trabalhar com eles e abrir um escritório em Caldas. Aceitei essa proposta e formei um grupo de trabalho, onde chegámos a ser 12 pessoas. Enquanto isso, a Canguru fez uma parceria e através dessa parceria surgiu o Projecto Pilar, um projecto  com a duração de dezoito meses, financiado por fundos comunitários. Nesse momento decidi encerrar a minha actividade na oficina e dedicar-me apenas ao site e à Canguru. Através do site, acabei por conhecer uma pessoa e começámos um relacionamento. A nível profissional as coisas iam-se desenrolando com alguma instabilidade, devido à bipolaridade de comportamentos por parte da administração. Em relação ao Projecto Pilar, entretanto terminou e assim a minha actividade em termos de associação passou a resumir-se aos acompanhamentos, internamentos e algumas acções de sensibilização.

 

O meu relacionamento evoluiu e decidimos viver juntos, o que me levou a tomar a decisão de vender o apartamento e procurar uma casa maior. Encontrada essa casa, juntámo-nos e ficámos a viver em Caldas. Entretanto a minha companheira tinha ficado desempregada e consegui que a empresa para a qual eu trabalhava a contratasse.

 

Em 2009 cumpre-se um sonho e nasce a minha filha. Foram sensações e sentimentos inimagináveis até então. Entretanto, a empresa já tinha mandado encerrar o escritório e ficámos a trabalhar em casa, mantendo as mesmas funções.

 

Trabalhámos alguns anos nessa empresa, eu era o responsavel por uma das actividades desenvolvidas pela empresa, e durante os cerca de 9 anos que trabalhei nessa empresa tive apenas duas horas de férias. Estive durante 9 anos ligado aos sistemas de controle do site, para supervisonar tudo e cumprir outras tarefas que eram da minha responsabilidade, inclusive durante um internamento hospitalar tive o portátil e trabalhei no hospital.

 

Nesse período fiz de tudo, por diversas vezes me foram atribuídas outras tarefas, pois a administração da empresa era muito instável e até irresponsável. Desde promessas por cumprir, a viajar e não pagar o que devia aos funcionários e outras situações que não vale a pena expôr aqui, tudo aguentei. Gostava do que fazia, tinha bom feedback das pessoas que usavam o site e ia fazendo o meu trabalho. Até que o gerente fala comigo e me diz que iria ter que reduzir o pessoal, que eu e a minha companheira continuaríamos a trabalhar, mas que não dava para aguentar tanta despesa. Esta conversa aconteceu umas 4 ou 5 vezes, e de todas as vezes a promessa era a mesma: eu e a minha companheira continuaríamos sempre com ele. Pelo meio, o gerente fez algumas propostas que nunca concretizou. Um dia falou-me de novo nas dificuldades da empresa (ele nunca se inibiu de viajar pelo mundo) e que ia ter que fechar. Finalmente, covardemente, disse que ia ter que fechar que não dava mais. Para além de no momento do despedimento nos dever dinheiro, ainda me insultou e ofendeu. Consumado o despedimento, descobri que na realidade só me despediu a mim e à minha companheira, mantendo toda a estructura existente. Poucos dias depois viajou para a Turquia, o que me leva a concluir que andei 9 anos a sacrificar-me para alguém que não respeita ninguém.

E assim ficámos do desemprego, eu e a minha companheira. Não tem sido fácil, a nossa menina está com 4 anos e só com a ajuda dos meus pais temos conseguido ir vivendo.

 

 

Hoje dia 6 de Junho de 2014, dia em que cumpro 52 anos de vida, cá estou de novo a escrever na minha história de vida. Quero que entendam que esta narrativa não engloba tudo na minha vida, existem momentos que, ou por vergonha minha, ou para preservar alguma privacidade, e mais importante para não provocar mais sofrimento a outras pessoas, nunca foram referidos por mim. Como devem ter percebido, chegou o momento de dizer BASTA!!!!

O que vou escrever a seguir não pretende, de forma alguma, culpabilizar os meus pais sobre o que foi a minha vida. Sei, e já lhes disse, que eles fizeram o melhor que podiam e sabiam por mim. Reconheço que ainda hoje me apoiam e tudo fazem para que eu esteja bem, portanto seria injusto da minha parte insinuar sequer que eles são culpados seja do que for.

 

Durante a minha vida passei por situações que não as desejo a ninguém. Algumas dessas situações foram mantidas em segredo para poupar principalmente os meus pais. Muitas coisas me marcaram profundamente, e até, segundo creio, influenciaram quem eu fui e o que fiz.

Refiro o facto de os meus pais terem emigrado, e eu ter ficado com familiares, apenas como facto cronológico, não como culpabilização dos meus pais. Passei períodos em que era de alguma forma marginalizado, estando em casa de familiares, muitas vezes era excluído. Em criança fui abusado sexualmente por três pessoas, e sim: são sempre pessoas próximas que o fazem. Durante décadas encondi isso. No ínicio, nem sei porque o escondi, depois escondi por vergonha, e mais tarde para poupar os meus pais. Durante a minha juventude, como tive um grande período de consumo de drogas, não posso dizer que me marginalizaram ou excluíram, pois foi o meu consumo de drogas que tal provocou. No entanto, posso referir as muitas desilusões que sofri e as traições de que fui vitima ao longo dos anos.

 

Muitas vezes pensei em voltar a drogar-me, em desistir de tudo, pensei até em suicído. Mas felizmente, que a minha vida de sofrimento e de dor também foi uma força de conquistas e de vitórias. Seja porque penso na minha filha, seja porque penso que não vou dar o prazer de me verem na droga outra vez a ninguém, seja por concluir que gosto muito de QUEM SOU. Posso não gostar muito de algumas coisas, mas gosto muito, mesmo muito dos sentimentos e valores que transporto. depois de anos e anos sem sentir, tornei-me num homem-chorão, emociono-me com muita facilidadee e daí ás lágrimas é um instante. Sei que a maioria das pessoas, apelidam pessoas como eu de inadaptados, traumatizados ou até fracos psicológicamente, mas o que me importa a mim é o que eu sinto e o que penso de mim. Muitas das pessoas que falam depreciativamente de pessoas como eu, na verdade são aquilo que chamam aos outros. Pessoas que vivem uma vida de fachada, que são incapazes de dar um abraço a quem precisa, que não conseguem ser humanos.

Chamem-me o que quiserem, mas eu sei que estou certo: estou neste mundo para amar os outros, para respeitar a todos de igual forma.

Comi à mesa de ciganos, convivi com ladrões, com prostitutas, vivi com pessoas de várias nacionalidades, em em todos eles encontrei boas pessoas e pessoas menos boas. Em todos esses grupos encontrei pessoas que me respeitaram e até ajudaram. De que me serve ter pessoas que se dizem minhas amigas e depois os actos não demonstram isso?

 

Verdade que evito dizer muita coisa ás pessoas, por medo de as magoar, tento sempre meter-me no lugar da outra pessoa e assim prefiro não dizer as coisas. Exacto: quando rebento digo tudo e depois não entendem e acham que eu estou doido. As pessoas fazem as coisas tão naturalmente que nem se aprecebem que estão a provocar dor a outra pessoa. Mas na verdade não se apercebem porque na realidade são vazias de sensibilidade e de humildade.

 

Preciso de pessoas que partilhem comigo uma boa gargalhada, um momento de dor, um momento de solidão, de silêncio, mas preciso essencialmente de alguém que partilhe comigo esta forma de amar e respeitar os outros. É doloroso que para encontrar alguém assim, tenha que recordar os falecidos:

 

Domingos Isidoro D'el Rio: a pessoa que acreditou em mim, que de forma desinteressada me ajudou, por vezes tendo problemas familiares devido á nossa amizade, e mesmo assim nunca me virou a cara.

 

Duílio: o seu olhar, de dor, de medo, de desespero, quando no último dia de vida, me olhava, já sem voz, deitado na cama de hospital onde viria a falecer horas de pois de o deixar.

 

José Valadas (Carocha): apesar de tudo o que possam dizer dele, sempre foi alguém que me entendeu e me respeitou. Tinha os seus defeitos, como todos, mas apesar da sua toxicodependência, nunca deixou de demonstrar sentimentos por mim.

 

António Domingos (Tó Gordo): acompanhei-o na doença, depois de vencer a droga não conseguiu vencer a doença. Nunca esquecerei os momentos que partilhámos, as sensações, as emoções. ele sim, um verdadeiro herói, um campeão. Entre a droga e a vida, escolheu a vida, mesmo sabendo que pouco tempo lhe restava de vida. Obrigado Tó, por me fazeres acreditar que se quisermos podemos vencer a droga. Obrigado, por me provares que aquilo que eu te dizia era possível.

 

De Blas Patxi: a tua forma afável e amigável como me recebeste, como me apoiaste durante dois anos do meu internamento no Patriarche, a alegria do reencontro passados uns anos de eu ter abandonado a associação, os dias que passámos juntos nessa minha visita. Os anos tentanto ter notícias tuas, querendo saber por onde andavas, e de repente, descobri que já tinhas falecido. Até sempre AMIGO Patxi.

 

Poderia incluir alguns familiares nesta lista, mas preferi não o fazer, não os esqueci. Apenas acho que não devo invocar essas pessoas. basta o lugar que ocupam no meu coração.

 

Para finalizar por hoje, peço a quem ler estas palavras, que as guarde para si, que não as comente comigo, que não me diga a sua opinião, que se as ler e se cruzar comigo as esqueça e me trate como sempre tratou. Não quero respeito, não quero que sintam pena, quero apenas que me tratem como sempre trataram e que se por acaso acharem que me devem pedir desculpa por algo que me tenham feito, não o façam: JÁ PRESCREVEU!!!!!!

 

 

Jovem perdido, sem destino
alma solitária e dorida
atibuiram as dores à falta de tino
nunca tentaram perceber o porquê da ferida

Anos de trevas, e sofrimento
anos de incompreensão e de solidão
decidi viver o momento
acabei por cair na escuridão

Um dia quis encontrar a luz
percorri a minha estrada
vesti armadura com capuz
e lutei com a minha espada

Luta desigual, luta sem fim
descobri que esta vida
não devia ser assim
e a alma continua perdida

Alma perdida e solitária
pessoa incompreendida
dor profunda e imaginária
desejo de abandonar a vida

Abandonar a vida
partir para outro patamar
procurar novo ponto de partida
finalmente descansar

Escolho o silêncio
escolho o isolamento
estado de dormência
não tenho alento..........

 

 Em Agosto de 2016, separei-me da mãe da minha filha e passei um mau bocado. Muitos pensamentos negativos me atormentaram. Mas assim como tinha esses pensamentos negativos, também me lembrava da minha filha e por amor à Eva sempre afugentava esses pensamentos. O simples facto de pensar na dor que iria causar à minha filha, fez com que seguisse em frente. Decidi que independentemente da dor que sentisse, das dificuldades que tivesse, o mais importante é a Eva.

Há 3 anos que tenho uma loja de artigos usados, aqui em Caldas da Rainha, assim, pelo menos evito estar no desemprego e a fazer formações sem sentido e sem qualquer utilidade. Não é fácil, mas pelo menos vou lutando e tentando fazer face ás despesas. Apesar da separação, estou todos os dias com a minha filha o que me deixa muito feliz e faz de mim um pai presente.

Agora luto por um sonho.....O sonho de conseguir levar a minha filha a Paris à Eurodisney.